"por esta altura, na primavera, os Jacarandás floriam viçosos e eram
parte de todos os acontecimentos importantes.
Até dava gosto aperaltarmo-nos para vir passear ao largo que
fervilhava de vida! Lembro-me bem de ser à sombra dos Jacarandás
que os saltimbancos e os palhaços faziam as suas habilidades, e que
eu e os outros moços os tentávamos imitar.
Era também aqui que fazíamos os nossos primeiros jogos a medir forças.
Experimentávamos assim as primeiras valentias e marcávamos posições
! mas nesse tempo sabia-se de tudo aqui no Largo...era aqui que
primeiro chegavam as notícias desse mundo! e também, à falta de
notícias, era aqui que se inventava alguma coisa que se parecesse
com a verdade, e com o passar do tempo essa coisa inventada vinha a ser
a verdade!
Aquilo que vinha do Largo tinha a força da verdade.
Era assim, o Largo era o centro do mundo.
Para nós homens é que o Largo era o começo do mundo. Quem lá
dominasse, dominava o mundo, e nós moços, sonhávamos com o dia
em que seríamos aceites no Largo, no meio dos homens
sabedores que instruíam a Aldeia, dos contadores de histórias
fantásticas e até dos mestres-ferreiros, dos camponeses e donos do
comércio. Era aqui que aprendíamos o que era a vida e como se
chegava a homem de respeito."
António Gambóias