segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

O prazer de dizer... Poesia!

Apresentação do livro "Arte Humana", de Fernando Esteves Pinto, na Biblioteca Municipal António Ramos Rosa.
Ana Oliveira e António Gambóias


Envolves a cidade numa mortalha e deliras:
Uma antiga febre, irada,mental, murmura
Com a mesma violência que afecta o mundo.

E a tua desordem é uma linguagem de nervos
Ou uma ave assombrada em alta aflição.

Mas no teu voo trémulo a língua enche-se de paz.

São fantasias e sonhos nos seus julgamentos pervertidos
Onde por vezes uma luz dentro da cabeça
Procura conforto e odeia-se
E com a sua energia divina vacila e desconjunta.

Não a razão exprimindo um desejo, ganhando forma real.
Decadência profunda no teu espírito demolido
Vertendo dúvidas e iluminações alucinantes.

sábado, 4 de janeiro de 2020

Laurinda Não foi à Guerra

      Tantas ausências e tantas vidas! 
      Filhos, irmãos, namorados, companheiros, maridos... e ficaram as
      mulheres a entretecer a longa labuta dos dias de espera e de 
      sofrimento, a espera e o sofrimento de quem não foi à guerra.
Quem vai sofre mas quem fica, sofre também...


Ana Isabel Baptista e Catarina Silva

Dizer os poetas árabes Hoje

Gonçalo Pescada, Ana Oliveira e António Gambóias



Eu quero ser

Sou um intruso,
Um intruso na literatura.
Um intruso na linguagem, no amor, na cor, no perfume e na música...
Um intruso para a plenitude da vida.
Estou a regressar de uma ausência profunda para uma melancolia na qual não quero acreditar.
Sou transportado por ondas de nostalgia...
Uma gaivota guia-me para algumas das minhas memórias, depois voa...
Desaparece...
Uma onda de desespero lança-me para um porto distante.
Esfrego o sal dos meus olhos tentando acreditar que estou aqui suspirando sozinho na rocha do exílio...
Esculpi um pouco da minha ironia...
Amaldiçoo o chão por um tempo, e resolvo partir...
Abro o meu coração aos meus falsos sonhos...
Tento, como um idiota, apanhar um pouco de ar...
Pareço um ladrão aos olhos de estranhos enquanto recupero da minha vida sequestrada...
Pareço-lhes um criminoso, enquanto grito ao vento:
Eu quero ser!

Zakariia Sabbagh


Evocando a nova poesia árabe


O CÂNTICO DA MULHER
De lado,
Tinhas o rosto de um homem idoso
Que, assaltado por dias de mágoa,
Me trouxe o seu frasquinho esverdeado
E pedia que tomasse a última refeição.
Esse frasquinho é uma enseada,
O casamento de um barco com uma enseada
Nos dias em que as praias se afundam
E as gaivotas encontram os rostos
E o capitão pressente o seu futuro.
Ele veio cheio de fome até mim, eu dei-lhe o meu amor
Como um pão, como uma bilha, como um leito
E abri as portas ao vento e ao sol
E partilhei com ele a última refeição.

Ana Oliveira, António Gambóias e Rui Afonso

O CÂNTICO DO HOMEM   

De lado
Vi o teu rosto pintado no tronco da palmeira
O sol negro nas tuas mãos
Então montei a minha saudade da palmeira
Trazia a noite num cesto, trazia a cidade às costas
E polvilhei-me à volta dos teus olhos, estudei
O meu rosto
E vi o teu rosto, havia nele a fome de uma criança
E esconjurei-o com fórmulas mágicas
E polvilhei- o com jasmim


Gonçalo Pescada, Ana Oliveira e António Gambóias