O CÂNTICO DA MULHER
De lado,
Tinhas o rosto de um
homem idoso
Que, assaltado por
dias de mágoa,
Me trouxe o seu
frasquinho esverdeado
E pedia que tomasse
a última refeição.
Esse frasquinho é
uma enseada,
O casamento de um
barco com uma enseada
Nos dias em que as
praias se afundam
E as gaivotas
encontram os rostos
E o capitão
pressente o seu futuro.
Ele veio cheio de
fome até mim, eu dei-lhe o meu amor
Como um pão, como
uma bilha, como um leito
E abri as portas ao
vento e ao sol
E partilhei com ele
a última refeição.
![]() |
Ana Oliveira, António Gambóias e Rui Afonso |
O CÂNTICO DO HOMEM
De lado
Vi o teu rosto
pintado no tronco da palmeira
O sol negro nas tuas
mãos
Então montei a minha
saudade da palmeira
Trazia a noite num
cesto, trazia a cidade às costas
E polvilhei-me à
volta dos teus olhos, estudei
O meu rosto
E vi o teu rosto,
havia nele a fome de uma criança
E esconjurei-o com
fórmulas mágicas
E polvilhei- o com
jasmim
![]() |
Gonçalo Pescada, Ana Oliveira e António Gambóias |
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