Aldeia Velha é um
espetáculo de teatro que pretendeu cumprir um duplo objectivo: por um lado
apresentar o trabalho final resultante do estágio de uma aluna do curso de
Artes do Espectáculo – Interpretação, da Esc. Secundária Tomás Cabreira, Irene Rossas num espaço não convencional ao trabalho de actor.
Por outro, conceber uma apresentação teatral para um espaço museológico, o que
implica a mobilização das competências fundamentais ao trabalho de actor, mas
também atender a todo o enquadramento inerente ao acervo histórico e ao espaço
arquitectónico.
Constituiu-se igualmente como desafio a escrita
de um texto para teatro a partir de um conto muito significativo de Manuel da
Fonseca, O Largo, imbuído de um arguto espírito neorrealista. Para o autor, o
professor de teatro e ator António Gambóias “o teatro não pode deixar de ser
uma arte interventiva, quis problematizar nos dias de hoje, numa região
envelhecida e empobrecida, temas que afinal são de sempre e nos confrontam com
a própria pergunta de Manuel da Fonseca: não estaremos em presença de um mundo
vivo de gente já morta?”
Para o espectador ficará viva a memória
de um texto duro sem deixar de ser cativante, que enuncia a vida das populações
do interior antes de terem sido votadas ao abandono.
"...pois é meu amor, é difícil de explicar. Quando se acaba com as estruturas fundamentais à vida das pessoas, não pode esperar-se que elas continuem a resistir e a sonhar!"
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Irene Rossas |
Fica também a excelente
interpretação de Irene Rossas, que interpretou três personagens, a emoção da
personagem Má-Raça, interpretada pelo seminarista Fabrício Fortes,
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Fabrício Fortes |
uma espécie de malandro das
aldeias que roubava aos ricos para ajudar os que mais precisavam e a música das
palavras que a voz de Jorge Miguel nos permitiu ouvir, no papel do
taberneiro que não permite conversas sobre política na sua venda.
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Jorge Miguel |
Manuel da Fonseca esteve presente na
ideia inicial da construção deste texto a partir de personagens inspiradas no
conto o Largo. Neste espetáculo estes
atores deram vida ao João Gadunha, que via eucaliptos no Largo do Rossio, ao
João Canas, que fora obrigado pelo pai a tirar o retrato “vestido à mamã”, ao
Lérias, que teve de emigrar para França, e às mulheres, a força motora da
aldeia que sustentavam o quotidiano com espírito e delicadeza como se de um
bordado se tratasse. Tia Arminda e Júlia constituem dois planos de
gerações que tecem as emoções e estabelecem os nós de toda a história da Aldeia
Velha.
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Ivandro Correia, Jorge Miguel e Bruno Valente |
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Fabrício Fortes e Irene Rossas |
O final é de uma crueza desconcertante,
pois a visita de um jovem casal à “aldeia dos velhos”, habitada por dois ou
três idosos faz estabelecer o contraste entre o encantamento dos jovens urbanos
relativamente à força das origens e da terra com a percepção da impossibilidade
de constituir vida naqueles locais. Como diz o texto de António Gambóias:
“Quando se acaba com os modos de vida das pessoas (Como as escolas, os centros
de saúdes, os postos de correios) não se pode esperar que estas continuem com
força para resistir e para sonhar.
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Irene Rossas |
Esta Aldeia é muito bonita para visitar, mas
agora não passa de uma aldeia de velhos. Vamos embora para casa”.
Um sinal dos
tempos, cada vez mais difíceis, que nos convida a reflectir sobre o papel das
nossas aldeias do interior no desenvolvimento da nossa economia, da nossa
cultura e, sobretudo, do nosso ser enquanto cidadãos.
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Edgar Silva, Fabrício Fortes, Irene Rossas, Bruno Valente, Jorge Miguel, Ivandro Correia e José Amarante |
Encenação: António Gambóias
Com: Irene Rossas (PAE 2ºB); Bruno Valente; Edgar Silva; Fabrício Fortes; Ivandro Correia; José Amarante; Jorge Miguel.
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