sexta-feira, 8 de julho de 2016

Aldeia Velha

Aldeia Velha é um espetáculo de teatro que pretendeu cumprir um duplo objectivo: por um lado apresentar o trabalho final resultante do estágio de uma aluna do curso de Artes do Espectáculo – Interpretação, da Esc. Secundária Tomás Cabreira, Irene Rossas num espaço não convencional ao trabalho de actor. Por outro, conceber uma apresentação teatral para um espaço museológico, o que implica a mobilização das competências fundamentais ao trabalho de actor, mas também atender a todo o enquadramento inerente ao acervo histórico e ao espaço arquitectónico.
Constituiu-se igualmente como desafio a escrita de um texto para teatro a partir de um conto muito significativo de Manuel da Fonseca, O Largo, imbuído de um arguto espírito neorrealista. Para o autor, o professor de teatro e ator António Gambóias “o teatro não pode deixar de ser uma arte interventiva, quis problematizar nos dias de hoje, numa região envelhecida e empobrecida, temas que afinal são de sempre e nos confrontam com a própria pergunta de Manuel da Fonseca: não estaremos em presença de um mundo vivo de gente já morta?”
Para o espectador ficará viva a memória de um texto duro sem deixar de ser cativante, que enuncia a vida das populações do interior antes de terem sido votadas ao abandono. 


"...pois é meu amor, é difícil de explicar. Quando se acaba com as estruturas fundamentais à vida das pessoas, não pode esperar-se que elas continuem a resistir e a sonhar!"


Irene Rossas


Fica também a excelente interpretação de Irene Rossas, que interpretou três personagens, a emoção da personagem Má-Raça, interpretada pelo seminarista Fabrício Fortes, 



Fabrício Fortes
uma espécie de malandro das aldeias que roubava aos ricos para ajudar os que mais precisavam e a música das palavras que a voz de Jorge Miguel nos permitiu ouvir, no papel do taberneiro que não permite conversas sobre política na sua venda.

Jorge Miguel

Manuel da Fonseca esteve presente na ideia inicial da construção deste texto a partir de personagens inspiradas no conto o Largo. Neste espetáculo estes atores deram vida ao João Gadunha, que via eucaliptos no Largo do Rossio, ao João Canas, que fora obrigado pelo pai a tirar o retrato “vestido à mamã”, ao Lérias, que teve de emigrar para França, e às mulheres, a força motora da aldeia que sustentavam o quotidiano com espírito e delicadeza como se de um bordado se tratasse. Tia Arminda e Júlia constituem dois planos de gerações que tecem as emoções e estabelecem os nós de toda a história da Aldeia Velha.
Ivandro Correia, Jorge Miguel e Bruno Valente

Fabrício Fortes e Irene Rossas
O final é de uma crueza desconcertante, pois a visita de um jovem casal à “aldeia dos velhos”, habitada por dois ou três idosos faz estabelecer o contraste entre o encantamento dos jovens urbanos relativamente à força das origens e da terra com a percepção da impossibilidade de constituir vida naqueles locais. Como diz o texto de António Gambóias: “Quando se acaba com os modos de vida das pessoas (Como as escolas, os centros de saúdes, os postos de correios) não se pode esperar que estas continuem com força para resistir e para sonhar. 


Irene Rossas

Esta Aldeia é muito bonita para visitar, mas agora não passa de uma aldeia de velhos. Vamos embora para casa”. 

Um sinal dos tempos, cada vez mais difíceis, que nos convida a reflectir sobre o papel das nossas aldeias do interior no desenvolvimento da nossa economia, da nossa cultura e, sobretudo, do nosso ser enquanto cidadãos.

Edgar Silva, Fabrício Fortes, Irene Rossas, Bruno Valente, Jorge Miguel, Ivandro Correia e José Amarante 
Encenação: António Gambóias
Com: Irene Rossas (PAE 2ºB); Bruno Valente; Edgar Silva; Fabrício Fortes; Ivandro Correia; José Amarante; Jorge Miguel.

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