Meu amor,
Eu adoro-te e penso em ti sempre, com muita saudade muita
ternura. Tenho muita pena de não poder assistir ao crescimento do nosso filho.
Como vai a barriga? Eu tirei, tiraram-me no barco uma fotografia que vou tentar
mandar, embora não esteja grande coisa, para te lembrares melhor de mim. O dia
da despedida, lembro-me dele como de uma coisa que tivesse passado durante uma
anestesia: o cansaço, o sono, a saudade, a agitação entravam e saíam de mim
numa leveza gasosa. Já nem me lembro bem da família que lá estava e não estava.
Mas, do barco, procurei-te sem te encontrar: uma tia Luísa minúscula disse-me,
por gestos, que te tinhas ido embora, e foi só então que eu tive a certeza de
que me ia embora. Fui para o camarote e sentei-me na cama e ouvia os gritos e
os choros sem pensar em nada, e não chorei porque um homem não chora. E nada
disto importa porque nos temos um ao outro até ao fim do mundo.
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